Conheci Dr. Patrícia, uma medica muito especial, e pedi a ela uma história de um paciente que tenha marcado sua memória. Ela disse: – Não vou contar não, vou lhe apresentar uma linda história, ao vivo.
Entramos em um quarto no final do corredor. Pouca luz e uma mulher de meia idade, sentada em um banquinho no chão, entre duas camas. A moça olhou para mim e em seguida para a Dra. Patrícia, e se pos a chorar muito.
Patrícia se agachou e perguntou:
– O que aconteceu Dn Antónia? Porque está chorando? Seu filho António está bem!
A moça respondeu:
-Doutora, achei que a Sra. tinha me abandonado! Liguei pro seu celular… A senhora sempre responde, mas desta vez não respondeu…
– Dn Antónia, voltei ontem de viagem… Meu celular estava desligado… Agora como faço? Trouxe este rapaz dizendo que eu era sua médica, e me gabando toda que sou boa medica, e você ai chorando dizendo que te abandonei…
Neste momento tive a coragem ou a covardia de fazer um primeiro retrato desta incrível mulher. Quando ela percebeu, disse a mim, “assim não, eu to feia!”, eu, na seqüência, respondi – Não, a senhora está linda.
Mas a foto já tinha sido feita, respeitei seu pedido e acalmei meu dedo.
Dia seguinte ela me contou sua história:
Seu filho António, então com nove anos, brincava em casa, no Seringal Canadá, quando uma bola bateu em sua cabeça. Pronto. Durante semanas, meses, o menino passou mal, e o medico dizia que era uma virose. “8 meses! E eu não me agüentava mais! resolvi ir até Feijó!” Conta Antonia. Mas Feijó, cidade mais próxima, estava longe. No verão, quando o rio está quase seco, quatro dias de barco são necessários no percurso. Em Feijó, os médicos continuavam a dizer que era virose, mas ela já não acreditava mais. Tentou com o TFD uma passagem para capital, Rio Branco. “Vai demorar de três a seis meses”, foi a resposta que ouviu. Mas como ela viveria em Feijó até lá? António só piorava, e o instinto da mãe dizia que ele não tinha este tempo. Antonia rodou a cidade e finalmente conseguiu a ajuda do Sr. Joaquim, empresário da cidade, que comprou as duas passagens. Em Rio Branco, António foi rapidamente diagnosticado com um grande tumor no cérebro e foi enviado para Goiânia para se tratar.
Dn Antónia ficou um ano sem conseguir retornar, nem mesmo dar notícias suas e do menino para o resto da família no Seringal. Mais dois anos se passaram para Antónia conseguir mudar o resto da família, abandonando suas terras no Seringal e tentando vida nova na capital.
Esta história não acaba aqui, eu vivenciaria depois todas dificuldades de seu longo percurso, mas isto fica pra mais tarde…
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